Ronco


O ronco tem sido definido como um ruído produzido pela vibração das partes moles das paredes da orofaringe. O papel dessas estruturas na produção do ronco é confirmado por alguns sucessos obtidos com procedimentos cirúrgicos para a eliminação do ronco.

Embora o ronco seja um distúrbio relativamente comum, apenas nas últimas décadas vem sendo investigado com maior profundidade por pesquisadores de diversas áreas da medicina. O ronco é um fenômeno que afeta aproximadamente 20 % dos adultos masculinos com idade superior a 40 anos. Em amostras populacionais não seleciondas foi observado que 19 % dos indivíduos podiam ser qualificados como roncadores habituais, ou seja, indivíduos que roncam toda a noite ou a maior parte dela, durante o sono, com maior freqüência de roncadores entre os homens (25 %) que mulheres (15 %) e menos freqüente nos mais jovens, aumentando progressivamente a partir dos 35 anos de idade e permanecendo estável após os 65 anos. Aproximadamente 60 % dos homens e 40 % da mulheres entre 41 e 65 anos são roncadores habituais. Duas principais abordagens são feitas sobre o ronco. A primeira considera o ronco como um marcador de fase pré-apnéia (apnéia são bloqueios momentâneos da respiração durante o sono), ou seja, o paciente que apresenta apenas ronco é considerado estar em fase que deve ou pode evoluir para a seguinte, qual seja, ronco com eventos respiratórios por apnéias obstrutivas. A segunda abordagem considera o ronco em si mesmo.


O ronco surge logo que o paciente inicia o sono (fase superficial), aumentando progressivamente enquanto o paciente avança para os estágios mais profundos do sono, atingindo a maior intensidade no estágio IV (observado na polissonografia: registro e análise do sono). Durante o estágio REM (estágio dos sonhos) o sono diminui sua intensidade em relação à observada nas outras fases.


Aspectos genéticos do Ronco

Os estudos genéticos sobre o ronco ainda são incompletos. Muitos relatos isolados, sugerindo componente genético do ronco, estão registrados na literatura médica. Havendo predisposição genética para o ronco, essa poderia ser anatômica ou constitucional.
 

Aspectos anatômicos do Ronco

Um estreitamento anatômico da orofaringe ou da hipofaringe, decorrente de muitas possibilidades etiológicas, determinando aumento da resistência ao fluxo aéreo nas vias aéreas superiores, pode criar condições locais para a produção do ronco. Anormalidades anatômicas desse grupo incluem estreitamento das cavidades nasais ou da cavidade orofaríngea, desvio de septo nasal, hipertrofia das adenóides, hipertrofia da amígdalas, micrognatia, retrognatia, malposição do osso ióide, dentre outras.


O ronco e posição de decúbito


Importante fator relacionado ao ronco é a posição preferencial de decúbito. Sabe-se que a posição supina, pelo seu efeito gravitacional, determina queda da língua para trás e as áreas inferiores pulmonares são afetadas com alteração da ventilação-perfusão, durante o sono.

Sabe-se que a privação do sono induz ou agrava o ronco por aumento do relaxamento muscular, comprometendo as contrações dos músculos dilatadores da faringe. O uso de alcoólicos ou de medicamentos sedativos igualmente podem piorar ronco. Acredita-se que o tabagismo induz o ronco por provocar aumento da resistência nas vias aéreas.


Obesidade e Ronco

A obesidade geralmente é definida em função de tabelas ou de índices que procuram identificar o excesso de peso, sendo mais utilizados as tabelas de peso médio, tabelas de peso ideal e o índice de massa corporal (IMC). O IMC é uma medida simples e oferece uma boa estimativa sobre a obesidade, embora falha em estimar indivíduos muito musculosos. É calculado pela relação entre o peso, tomado em kg e a estatura ao quadrado tomada em metros. Adultos com IMC superior a 27 kg/m2 são considerados obesos.


A obesidade aumenta a freqüência do ronco e das apnéias. Ronco habitual foi observado em 7 % dos homens e 2,8 % das mulheres com IMC abaixo de 27 kg/m2, e acima desses níveis essa freqüência sobe para 13,9 % e 61 %, respectivamente. Em um grupo de 41 adolescentes com peso superior a 150 % do ideal, o ronco ocorreu em todos.
É possível que a circunferência do pescoço seja uma variável mais estreitamente relacionada com o ronco e as apnéias do que a obesidade, identificada pelos índices usuais de avaliação.


Foi avaliado, em 123 pacientes com ronco e suspeita de apneáis, a circunferência externa do pescoço, medida ao nível da cartilagem cricotireoídea e a circunferência interna do pescoço, calculada por medidas das vias aéreas faríngea, glótica e traqueal, por técnica acústica. Observaram uma relação direta entre o índice de apnéia-hipopnéia e o IMC e também com as circunferências externa e interna do pescoço. Outra pesquisa indica que, quando mantido sob controle as variáveis idade e peso, nos homens, a circunferência da cintura correlacionou melhor com o índice de apnéia-hipopnéia do que a circunferência do pescoço, ocorrendo o oposto na mulher.
Especial atenção deve ser dada ao paciente que é obeso e sofre de apnéia, pois há evidência de que a obesidade intensa, em presença de apnéia, aumenta o risco de morte súbita por eventos cardiovasculares, independente de outros fatores de risco convencionais.


Quando o ronco é habitual, recomenda-se a perda de peso, pois a melhora do ronco pode algumas vezes ser obtida após o emagrecimento de apenas alguns quilogramas.


Sexo

A menor prevalência do ronco na mulher tem sido atribuída aos efeitos protetores da progesterona. Sabe-se que esse hormônio é um potente estimulante respiratório podendo aumentar o tonus dos músculos, estabilizando as vias aéreas. A alta prevalência do ronco nos homens tem sido atribuída aos efeitos da testosterona sobre a ventilação e a quimiossensibilidade. No entanto, os hormônios sexuais poderiam exercer seus efeitos provocando alterações estruturais no sistema respiratório, em particular nas vias aéreas superiores e nas estruturas musculoesqueléticas, em geral. Assim, as diferentes prevalências do ronco entre homens e mulheres seriam por fatores mecânicos, como têm sido proposto a partir de achados que indicam menores dimensões da faringe e maior resistência nas vias aéreas nos homens quando comparado com mulheres.



Doenças que influenciam o ronco

Algumas enfermidades, como o Hipotireoidismo, podem induzir ou agravar o ronco: O hipotireoidismo é uma das endocrinopatias que mais freqüentemente associam-se ao ronco. Acredita-se que a condição mixedematosa do hipotiroidismo provoque alterações na contratilidade muscular promovendo o ronco. Acromegalia: o ronco é comum em pacientes acromegálicos, decorrente de macroglosia, espessamento de mucosa faríngea, além de alterações ósseas e cartilaginosas próprias dessa enfermidade.


O ronco como fator de risco

Diversos estudos epidemiológicos têm mostrado que o ronco pode ser considerado como um fator de risco para doenças cardiovasculares, em particular, hipertensão arterial, doença cardíaca isquêmica e infarto cerebral (derrame).
A natureza da relação entre o ronco e a hipertensão arterial não está estabelecida. Alguns estudos mostram que o ronco, independentemente de outros fatores de risco (como obesidade, idade, tabagismo), é fator de risco para hipertensão arterial. Alguns estudos indicam também o ronco como fator de risco para infarto do miocárdio.


O ronco na mulher

O ronco é mais comum no homem do que na mulher. Muitas vezes o indivíduo que ronca não tem ciência desse fato e a prevalência do ronco, obtida por questionários aplicados, pode ser subestimada. Assim, a percepção do parceiro ou da parceira de ronco sobre o ronco torna-se relevante. Nesse sentido, é possível que a freqüência do ronco na mulher esteja sendo subestimada, tendo em conta que a mulher é mais confiável na identificação do ronco do parceiro, do que o oposto. Isso talvez deva-se às características do ronco no homem, pois sabe-se que o ronco no homem é, em geral, mais intenso do que na mulher. Em estudos polissonográficos de homens e mulheres para comparar a frequência e intensidade do ronco, em pacientes sem apnéia, foi observado não haver diferenças significativas, concluindo-se que mulheres roncam de modo semelhante aos homens. Mesmo se o ronco fosse menos frequente na mulher, isto não significaria que, quando presente, seria um distúrbio menos relevante.

Os estudos epidemiológicos sobre os distúrbios respiratórios do sono na criança ainda estão incompletos. O ronco é uma manifestação clínica facilmente observada nas crianças, embora aquelas que dormem separadas dos pais possam não ter o ronco identificado.
Em revisão recente da literatura médica, foram observados os sintomas mais relevantes na criança portadora de distúrbios respiratórios do sono:

Sintomas Diurnos   Sintomas Noturnos
Comportamentais   Respiração pela boca
Hiperatividade   Ronco
Timidez anormal   Sudorese
Desatenção em classe de aula   Sono agitado
Diminuição do rendimento escolar   Perda de saliva
Comportamento rebelde ou agressivo   Bruxismo
Retardo de desenvolvimento   Terror noturno
Distúrbios de fala   Sonambulismo
Distúrbios de deglutição   Enurese noturna secundária
Diminuição de apetite   Pesadelos
Falha para progredir    
Sonolência diurna e sonecas inexplicáveis